Neste período de pandemia, a quantidade de vendas on-line vem crescendo, mais que nunca, as pessoas estão acompanhando de perto o caminho que seus pedidos percorrem até chegarem nas suas residências.
Saindo um pouco da parte de projetos, mas não se afastando do tema infraestrutura, vamos discutir hoje sobre logística, ou seja, como bens e mercadorias são armazenadas e transportadas. Você já ouviu falar de transporte Sincromodal?
Se você não conhece esse termo ainda, não tem problema, ele é relativamente novo, utilizado pela primeira vez em 2011. O conceito deste transporte, também conhecido como SmT (Synchromodal Transport), está ligado a interconectividade entre diferentes modais. Consiste em avaliar qual a melhor alternativa para cada trecho, porém, sem ficar engessado num tipo de transporte, podendo alterar de maneira mais orgânica o modal à medida que possíveis interferências aparecem.
Certo, mas como isso é diferente do transporte intermodal ou multimodal?
O Transporte Intermodal consiste em utilizar vários meios de transporte para realizar um mesmo transporte. Por exemplo, transportar uma mercadoria desde o ponto de pinking no armazém de um produtor no interior até um centro logístico através de um caminhão, depois fazer sua carga em um navio para a China e voltar a utilizar um caminhão para levar o produto até o destino final.
Já o Transporte Sincromodal, apesar de similar, está baseado principalmente na flexibilidade, onde são analisadas diferentes alternativas com as que se pode contar naquele determinado momento com o objetivo de utilizar o meio mais adequado para cada tipo de transporte ou produto.
Mas se o SmT é “melhor” porque não utilizamos ele com mais frequência? Bem, apesar do conceito deste transporte parecer simples, para funcionar corretamente ele tem alguns pré-requisitos, citando: Políticas de Integração; Governança Integrada; Cooperação; Legislação adequada; Sistemas de Transportes Integrados; Coordenação de Cadeia Logística; Tecnologia Integrada; TI avançada; e informações em tempo real. Apesar de saber de maneira geral quais medidas precisam tomadas para a implementação do SmT, alguns desses pré-requisitos são onerosos ou demoram um tempo para se concretizar. Por exemplo, políticas públicas demoram para ser aprovadas, ou terminais intermodais precisam ser estudados, projetados e construídos. Por isso, é importante que desde já os gestores públicos providenciem recursos e elaborem novas políticas e estudos para o desenvolvimento do SmT no Brasil.
Ainda, algumas atividades precisam se reinventar e integrar novos conhecimentos, aprendendo a lidar com os novos desafios e problemas. Quando implementado o SmT trará melhorias para toda a cadeia de suprimentos, com uma melhor rastreabilidade, por exemplo. Também, resultará numa melhor alocação e utilização de recursos, trazendo benefícios para o meio ambiente e gerando uma redução de custos.
Como é um conceito novo, hoje em dia há vários estudos tentando quantificar e especificar possíveis problemas que podem aparecer ou benefícios ainda não contabilizados, ou até quais parâmetros neste transporte são mais relevantes para se obter o melhor resultado econômico ou ambiental.
É importante destacar que mesmo com problemas, ambiguidades e dificuldades o SmT é o futuro do transporte e, é importante que no presente sejam tomadas ações para se preparar para o que estar por vir.
Já em 2011, a Comissão Europeia de Mobilidade e Transporte publicou o White Paper 2011, abordando a criação de um mapa rodoviário para a unificação da área de transporte europeia – objetivando a competividade e eficiência do sistema de transporte. Neste mapa, a comissão europeia apresentou 40 ações concretas para que na próxima década o sistema seja mais competitivo, com aumento de mobilidade e remoção de barreiras em locais estratégicos. Outros benefícios também incluem o aumento de empregos, assim como a redução de necessidade de petróleo importado. Além disto, suas metas até 2050 incluem:
- Sem carros com emissões tradicionais nas cidades;
- Utilização de 40% combustíveis sustentáveis de baixa emissão na aviação;
- Redução de pelo menos 40% nas emissões de entregas;
- Para viagens de média distância de passageiros e cargas, estima-se uma mudança de 50% do modal rodoviário para o ferroviário e hidroviário.
Combinadas, estima-se que até a metade do século estas medidas reduzirão até 60% das emissões relativas ao transporte.
Para que esta visão se concretize a Comissão afirma que é necessário explorar melhor uma rede de infraestrutura mais moderna. Para isso, novos padrões devem ser obtidos, como: maiores volumes de carga e passageiros sendo transportados juntos até seu destino final com a combinação mais eficiente de modais; aumento da eficiência da multimodalidade, visto que as opções de descarbonização de rodovias são limitadas e a multimodalidade de cargas precisa ser economicamente atrativa.
Na figura a seguir é possível visualizar a base dos principais corredores de transportes na Europa.
Enquanto que no Brasil, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) possui, desde 2014, um acordo de Cooperação com a Holanda para o estudo de Corredores Multi- e Sincromodais. O principal projeto é o desenvolvimento do plano direto de um corredor brasileiro, sendo escolhido o “Corredor Mato Grosso – Portos do Norte” dentre os 13 principais corredores logísticos do país (mapeados pela EPL).
Com o intuito de fomentar a discussão sobre o futuro do setor de transportes na região norte, especialistas brasileiros apresentaram as ações e iniciativas para a logística local. Desde então, projetos e estudos de infraestrutura vêm sendo desenvolvidos para a melhora do setor de infraestrutura possibilitando integrações sincromodais.
Apesar do nosso país ainda estar caminhando para a implementação de corredores logísticos que sejam capazes de implementar o SmT, assim como na Europa, vemos que políticas e estudos estão sendo desenvolvidos para que isto ocorra. É importante lembrar que a integração dos diferentes modos e articulação entre os diferentes planos é um desafio mundial, mas a cada dia avançamos em direção à novas soluções e políticas interligadas para a resolução de problemas.
Se você acompanha nossas outras postagens, é possível entender a relevância e o impacto de projetos de infraestrutura no nosso dia a dia, e que estudos preliminares proporcionam melhores soluções técnicas para cada problema encontrado. Acreditamos que com o uso integrado de ferramentas e programas (iRAP e HDM-4 por exemplo), a concretização e o aumento da eficiência de sistemas logísticos sincromodais ocorra naturalmente.
Este texto foi elaborado pela Beta Consultoria em Infraestrutura, não podendo ser reproduzido ou distribuído sem a expressa autorização da mesma. As informações contidas neste documento possuem fins meramente informativos, não se caracterizando como relatório, estudo ou análise relacionada a qualquer área da engenharia. Destaca-se, ainda, que estas informações são consideradas confiáveis na data em foram apresentadas, portanto, estão sujeitas a mudanças.
Palavras-chave:
Sincromodal. SmT. Logística. Transporte.
Referências:
https://www.epl.gov.br/plano-nacional-de-logistica-pnl
https://ec.europa.eu/transport/themes/european-strategies/white-paper-2011_en
https://www.itf-oecd.org/sites/default/files/docs/1st-itf-statistics-meeting-ten-t-policy.pdf
http://portal.antaq.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/Corredores-Multi-e-Sincromodais-no-Brasil.pdf