Em 2019, o DNIT lançou o iRAP do Brasil, ou simplesmente BrazilRAP. O Programa de Avaliação de Rodovias do International Road Assessment Programme (iRAP) busca identificar as rodovias mais perigosas do país, ajudando na tomada de decisões quanto à priorização de intervenções nas mesmas.
Através da análise de imagens das rodovias, é realizada uma codificação do problema para, então, serem propostas contramedidas nos pontos de risco. Ao final, é idealizado um plano de investimentos para implantação de soluções.
Mas afinal, o que é o iRAP?
Como comentado, o iRAP é um programa que propõe melhorias pontuais para situações de risco em rodovias mas, antes de explicar exatamente o que ele faz, vamos entender como surgiu a ideia de seu desenvolvimento.
O Programa de Avaliação de Rodovias (RAP –Road Assessment Programme) surgiu em 2005 a partir de um trabalho conjunto dos governos britânico, sueco e holandês, em parceria com clubes automotivos e instituições de caridade. Seu objetivo inicial era criar um “mercado” para a segurança viária, através do aumento da conscientização da população. Com grande adesão mundial, o programa foi internacionalizado em 2006, se tornando o Programa Internacional de Avaliação de Rodovias (iRAP – International Road Assessment Programme).
Após muita pesquisa, trabalho e inovação, foram desenvolvidas técnicas para criação de programas de investimento voltados à segurança viária. Essas técnicas de avaliação têm o intuito de classificar as rodovias através de critérios de segurança e retorno financeiro. E assim nasceu essa ferramenta que auxilia no propósito de redução de acidentes através da verificação individual da situação atual de trechos rodoviários.
Mas como ele faz isso?
Os trechos rodoviários são “codificados” através de imagens, para se obter o registro dos atributos de cada segmento de 100,00 m. Os dados são então carregados no sistema ViDA (software do iRAP), para a chamada classificação por estrelas e posterior desenvolvimento de planos de investimentos.
Simplificadamente, o programa classifica as rodovias por estrelas, sendo uma estrela o pior caso e cinco estrelas o melhor. Tal sistema foi desenvolvido a partir de observações em rodovias e tem como função uma mensuração simples e objetiva do nível de segurança atingido pelo trecho rodoviário por cada tipo de usuário (pedestres, ciclistas, motociclistas e ocupantes de veículos automotores).
Como exemplos dessa classificação, temos os seguintes cenários:
- Para os pedestres:
- Uma estrela ( ): segmento sem calçadas, sem travessias seguras (passarelas ou faixas exclusivas) e tráfego de 60 km/h;
- Cinco estrelas ( ): segmento com calçadas, com travessias sinalizadas e com recuo, iluminação pública e tráfego de 40 km/h;
- Para os ocupantes de veículos automotores:
- Uma estrela ( ): segmento sem canteiro central ou com canteiro estreito, árvores na lateral da via, traçado sinuoso e velocidade 100 km/h;
- Cinco estrelas ( ): segmento com barreiras de segurança no canteiro central e na lateral da via, traçado mais linear e tráfego de 100 km/.
De acordo com as pesquisas do iRAP, de maneira geral, cada estrela a mais resulta numa redução de 50% nos custos de acidentes envolvendo fatalidades e feridos.
É importante ressaltar a grande quantidade de estudos realizados pelo iRAP, sendo os dados provenientes de 358 mil quilômetros de amostragem do sistema de estrelas espalhados em 54 países, inclusive o Brasil, contemplando 400 milhões de pontos de coleta de dados e 700 bilhões de km viajados por veículos por ano.
No mapa a seguir, é possível visualizar onde se encontram estes pontos de amostragem.
Fonte: https://www.vaccinesforroads.org/irap-big-data-tool-map/
Através da compilação dos dados coletados ao redor do mundo, o iRAP desenvolveu um mapa, apresentado a seguir, que permite a visualização simplificada das fatalidades no trânsito.
Fonte: https://www.vaccinesforroads.org/irap-big-data-tool-map/ (modificado)
Analisando rapidamente o mapa, é possível observar a tendência de países mais desenvolvidos e com mais recursos possuírem uma taxa menor de acidentes, sendo plausível presumir que isto ocorre devido à maiores investimentos em segurança viária.
Num mundo ideal, todas as vias seriam 5 estrelas para todos os tipos de usuários. Entretanto, compatibilizar todas as rodovias, para todos os modais, necessitaria de um aporte financeiro vultuoso, dificultando que tal “sonho” se torne realidade, cabendo apenas vislumbrar esta situação ideal para o futuro.
Para reforçar ainda mais o impacto dos acidentes de trânsito, de acordo com o iRAP, nas próximas 24 horas, é estimada a morte de mais de 3.600 pessoas e mais 100.000 pessoas vão sofrer acidentes debilitantes e, continuando nesse ritmo, mais de 375 milhões de pessoas morrerão em acidentes de trânsito na próxima década.
A partir destes dados alarmantes, as Nações Unidas e o iRAP estimaram que ao redor do mundo, se alguns locais conseguirem garantir, até 2030, 75% ou mais do total de viagens com 3 ou mais estrelas, possivelmente serão “salvas” 450.000 vidas a cada ano e, ao fim de 20 anos, mais de 100 milhões de acidentes fatais ou debilitantes serão evitados.
Mas afinal, todo esse investimento vale a pena? De acordo com as previsões do iRAP, sim. Se as rodovias receberem um investimento significativo, entre 0,1 e 0,2% do PIB de seu país por ano, até 2030 isso resultará num retorno de U$ 8 para cada U$ 1 investido.
Aos que ficaram interessados em aprender mais sobre o Programa, acessem o site do iRAP (www.irap.org), que está recheado de informações. Também em Florianópolis/SC, o LabTrans (Laboratório de Transportes e Logísticas da Universidade Federal de Santa Catarina) é um centro de excelência iRAP desde 2015, podendo capacitar e apoiar os profissionais que se almejam uma certificação iRAP.
Por fim, vemos a importância do enfoque em segurança viária nos estudos e projetos de engenharia. Os estudos de viabilidade (EVTEAs) sempre buscam integrar a melhor solução técnica aliada com a melhor relação custo-benefício, tanto para os órgãos públicos ou investidores privados, quanto para os usuários da via. Hoje, uma das ferramentas mais utilizadas para tal é o software HDM-4, que possui uma estratégia similar ao iRAP para avaliação de benefícios rodoviários quanto aos acidentes de trânsito. Portanto, é possível a integração de ambas as ferramentas em prol do melhor caminho para o desenvolvimento da infraestrutura, tornando-a sustentável economicamente e com cada vez mais segurança visando à preservação de vidas.
Este texto foi elaborado pela Beta Consultoria em Infraestrutura, não podendo ser reproduzido ou distribuído sem a expressa autorização da mesma. As informações contidas neste documento possuem fins meramente informativos, não se caracterizando como relatório, estudo ou análise relacionada a qualquer área da engenharia. Destaca-se, ainda, que estas informações são consideradas confiáveis na data em que foram apresentadas, portanto, estão sujeitas a mudanças.
Palavras-chave:
iRAP. Acidentes. Acidentes de trânsito. Segurança viária. Rodovias. Engenharia. Viabilidade. Investimentos.
Referências:
https://www.vaccinesforroads.org/business-case-for-safer-roads/